Foto: Alvaro Rossi (Divulgação)
Oftalmologista Álvaro Rossi foi um dos palestrantes de congresso em Porto Alegre (acima), realizado na semana passada, que tratou sobre o surto em Santa Maria. Médico alerta que todas as pessoas que tiveram a doença precisam passar por avaliação ocular
Um ano e dois meses após o anúncio oficial de que Santa Maria vivia um surto de toxoplasmose, o maior do mundo em números absolutos, com 902 casos confirmados entre os mais de 2,2 mil notificados, a doença segue sendo assunto na área da saúde. Nos dias 20, 21 e 22 de junho, o surto santa-mariense foi tema do 15º Congresso Sul-Brasileiro de Oftalmologia (Sulbra), em Porto Alegre.
Para falar sobre o surto, o oftalmologista Álvaro Rossi, que fez a avaliação oftalmológica de 188 pacientes no ambulatório montado inicialmente no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), palestrou sobre a toxoplasmose ocular e apresentou alguns dados.
- Muita gente ficou sem diagnóstico na época e sem realizar os exames, então, esses 902 casos são um subnúmero. Estima-se que cerca de 10% das pessoas que são diagnosticadas com a doença vão ter lesões nos olhos. E hoje, o que temos, é muito pouco, menos de 5%. O que vai acontecer é que nos próximos anos vamos ter um aumento de casos de toxoplasmose ocular na região por causa do grande número de pessoas infectadas - declarou.
AMBULATÓRIO
Conforme Rossi, durante o atendimento dos pacientes encaminhados ao ambulatório montado no Husm logo no início do surto, apenas três pessoas dos 188 atendidos apresentaram lesões nos olhos em função da toxoplasmose. Além disso, dos 183 pacientes atendidos posteriormente no ambulatório de oftalmologia, criado para o tratamento de pacientes em decorrência do surto, que funcionava junto à Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) 24h, 11 foram diagnosticados com toxoplasmose ocular.
Setor de pediatria do Husm recebe doações de agasalhos e brinquedos
No entanto, esse número deve aumentar com o passar do tempo, já que as pessoas que foram infectadas ficam com o cisto no organismo para sempre, podendo romper a qualquer momento e afetar os olhos.
- Atendi uma paciente em abril deste ano com lesão no olho. Na época do surto, ela teve a sintomatologia, procurou atendimento e não fizeram o exame. Como que se comprova que foi em decorrência do surto se ela ficou sem comprovação científica? Nós tivemos, sim, mais casos em que não foram feitos exames. A lição que fica é que temos de ter mais cuidado com a saúde básica da população - comenta Rossi.
FALTAM DADOS
De acordo com o médico, os dados que se têm até o momento sobre pacientes com problemas oculares em decorrência do surto de toxoplasmose são muito inconsistentes, já que, das 902 confirmações, apenas 371 teriam passado por avaliação oftalmológica na época (somando os 188 atendidos no Husm e os 183 atendidos no ambulatório da UPA).
- É difícil dizer quem vai ter ou não. Só o tempo vai dizer o que nós temos. O bom seria que todos esses 902 pacientes passassem por uma reavaliação. Falta toda uma política pública de saúde para a toxoplasmose no país inteiro. A população ainda tem que continuar se preocupando em ferver a água, pois é uma doença endêmica - avalia Rossi.